Apesar de melhorar a qualidade das informações e diminuir a
possibilidade de fraudes, o Sistema Público de Escrituração Digital
(Sped) tem elevado os gastos das companhias com mão de obra. Essa
é a conclusão da pesquisa "Custos e impactos da implantação do Sped
para as empresas brasileiras", realizada pela Fiscosoft Editora
e divulgada com exclusividade ao Valor. O levantamento ouviu a opinião
de executivos de 1.181 companhias de médio e grande porte de todo o
país.
O Sped foi criado em 2007 pela Receita Federal com o objetivo de
digitalizar as escriturações fiscal e contábil. Hoje, a maior parte das
empresas já é obrigada a usar o sistema.
A maioria dos participantes (96,3%) afirmou que com o Sped passou a
ter custos mais altos para cumprir obrigações tributárias. São gastos
com horas de trabalho de profissionais, implantação de sistemas e
serviço de consultoria externa, por exemplo. Somente 3,7% dos
pesquisados afirmaram não ter impacto financeiro com a medida. Já os
valores dispendidos são considerados altos pelas companhias. Do total,
24% afirmam gastar 10% de seu faturamento para cumprir todas as
obrigações acessórias, enquanto 19% reservam 5% da receita.
Segundo as companhias, a elevação de custos ocorre, em parte, pela
necessidade de alocação de mão de obra para cuidar apenas do Sped.
Conforme o levantamento, 91,1% das empresas tiveram crescimento no
volume de horas de trabalho de cada colaborador ou contrataram mais
pessoal. A pesquisa mostra ainda que 59,7% acreditam que mesmo daqui a
três anos, quando terminar a fase de transição e todas as etapas do Sped
estiverem implantadas, não será possível cumprir as obrigações
acessórias com menos recursos.
A diretora de conteúdo da Fiscosoft, Juliana Ono, coordenadora do
estudo, afirma que essa sensação se deve à enorme quantidade de
informações que precisam ser geradas. "Serão necessárias a manutenção
dessa estrutura e da mão de obra para alimentar constantemente esse
sistema com os novos dados exigidos", diz.
Por outro lado, 79,3% das empresas já admitem que o Sped trouxe maior
qualidade gerencial das informações e dos controles internos, com a
redução de erros, que podem acarretar multas. Além disso, 70% dos
participantes acreditam em uma redução da sonegação fiscal e,
consequentemente, da concorrência desleal. " Na nota fiscal em papel, o
empresário de má-fé tinha mais facilidade para sonegar informações. Com a
nota eletrônica, isso não é mais possível", afirma Juliana.
Apesar das reclamações sobre os custos, 90% das companhias reconhecem
que o Sped é benéfico para o país e 63,3% acreditam que a sistemática é
positiva para as empresas. "Ainda há, no entanto, um número
significativo de empresas que entende que os custos não compensam os
benefícios", diz a diretora da Fiscosoft.
Douglas Rogério Campanini, da auditoria e consultoria ASPR, que
atende companhias na implantação do Sped, afirma que os custos realmente
são alvo de reclamações. "As empresas precisam de pessoas muito mais
qualificadas. Há outras que criaram um departamento interno somente para
o Sped."
Procurada pelo Valor, a Receita Federal não retornou até o fechamento desta edição.
Por Adriana Aguiar | De São Paulo
Fonte: Valor Econômico via http://www.joseadriano.com.br/profiles/blogs/custos-com-sped-geram-reclamacoes
Nenhum comentário:
Postar um comentário