Quais as origens? Como surgiu? Por que o mundo escolheu as IFRSs como padrão internacional? Como o Brasil adotou?
As normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS na sigla em
inglês) surgiram a partir da globalização das empresas e, também, dos
investidores – indicando uma necessidade global de informações
padronizadas para análises de investimentos.
O mundo corporativo estava ainda bem dividido para a adoção de um
único padrão internacional de contabilidade – entre os padrões
americanos (US GAAP – United States General Accepted Accounting
Principles) e os padrões internacionais (IFRS – International Financial
Reporting Standards), que foram baseados, principalmente, nos padrões
contábeis britânicos (FRS – Financial Reporting Standards). Enquanto a
primeira era baseada em regras, a segunda era baseada em princípios. A
intenção de internacionalizar a contabilidade e as demonstrações
financeiras das empresas existe há muito tempo. Por exemplo: o IASC
(International Accounting Standards Committee), órgão responsável pela
emissão das IAS (International Accounting Standards) foi fundado em 1973
– na tentativa de iniciar este processo de internacionalização.
Havia certa tendência (de alguns países) para a adoção do USGAAP como
padrão internacional, devido a maior relevância dos Estados Unidos nos
mercados de capitais e como investidores. A maioria esmagadora dos
investidores do mundo corporativo estava nos Estados Unidos e, portanto,
nada mais natural do que adotar um padrão que seja inteligível aos
nossos investidores.
Porém, quando começou a acontecer a globalização real dos
investidores, assim como a pulverização dos investimentos para pessoas
físicas, o padrão americano sofreu um forte golpe na briga pela
padronização global – os maiores escândalos corporativos aconteceram nos
Estados Unidos. A partir do final do século passado e início deste
século, vimos grandes escândalos corporativos no maior Mmercado
decCapitais do mundo. Entre estes escândalos, é possível ressaltar os
mais famosos: Enron, WorldCom, Arthur Andersen, entre outros.
Coincidentemente (ou não), em Abril de 2001 o IASC foi substituído
pelo IASB (International Accounting Standards Board) e as IAS começaram a
ser substituídas pelas IFRS (International Financial Reporting
Standards) – este processo de substituição / revisão das IAS ainda estão
em andamento no IASB. A Europa, a partir da Inglaterra, começou a se
mobilizar para adotar um padrão único de contabilidade neste momento e,
com os escândalos acontecendo nos Estados Unidos, o USGAAP estava
temporariamente enfraquecido – gerando algumas desconfianças. A Europa
não perdeu tempo e, oportunamente, começou os estudos para facilitar a
implementação das IFRSs, definindo que as empresas não precisariam
alterar seus livros contábeis ou fiscais, sendo as IFRSs aplicáveis
somente nas demonstrações financeiras consolidadas. Este foi um grande
passo para a adoção das IFRSs na Europa.
Paralelamente ao movimento europeu, o mundo enxergou as mesmas
desconfianças nos padrões americanos. Ainda, o mundo iniciou um estudo
sobre as principais diferenças entre os dois padrões. Sendo o USGAAP
baseado em regras e as IFRSs baseadas em princípios, é indiscutível que
as IFRSs trazem menor volume (isso não significa que seja pequeno) de
informações a serem estudadas – comparativamente com o USGAAP, que trata
detalhadamente de cada assunto específico. Existem casos em que para
uma norma de IFRS existem três ou quatro (ou mais) normas equivalentes
de USGAAP.
Os escândalos corporativos nos Estados Unidos aliados a grande
quantidade de literatura das normas e à tratar-se de regras em vez de
princípios, foram os principais fatores que fizeram o mundo optar pela
internacionalização da contabilidade e das demonstrações financeiras
através das IFRSs.
Especificamente no Brasil, a Lei 6.404/76 ("Lei das S/A") era baseada
em regras, no antigo USGAAP. Porém, esta Lei não evoluiu como deveria
(comparativamente ao USGAAP). Desde 1976 as mudanças contábeis trazidas
ao Brasil eram, basicamente, anunciadas pela Receita Federal e nossa
contabilidade era, em suma, voltada para "atender o fisco" – e não aos
interesses dos investidores.
Podemos dizer que o Brasil estava acomodado em relação às suas normas
contábeis e de demonstrações financeiras. Quando, em Dezembro de 2007, o
presidente Lula sancionou a Lei 11.638 (para alteração da Lei 6.404),
presenciamos a maior revolução contábil no Brasil dos últimos 30 anos. A
Lei 11.638 trouxe o conceito ao Brasil para que nós ficássemos
convergentes às normas internacionais conforme as IFRSs.
A Lei 11.638 usou a estrutura já existente do CPC (Comitê de
Pronunciamentos Contábeis), que havia sido criado em 2005 pelo CFC
(Conselho Federal de Contabilidade). Este órgão ficou responsável por
traduzir os padrões internacionais para o português e, também, por
adaptá-los à realidade brasileira, emitindo Pronunciamentos,
Interpretações e Orientações técnicas convergentes com as normas
internacionais.
A fim de facilitar a implementação das normas internacionais nas
empresas brasileiras, o CPC dividiu a emissão de pronunciamentos em duas
principais partes: 14 normas e 2 orientações emitidas em 2008, e o
restante sendo emitido a partir de 2009. As empresas brasileiras, ou
instaladas no Brasil, adotaram as primeiras normas e orientações em 31
de dezembro de 2008, e o restante destas somente para o exercício findo
em 31 de dezembro de 2010.
Sem dúvida, foi uma grande revolução na contabilidade brasileira,
alterando o modo como vemos a contabilidade, como enxergamos as empresas
e suas operações.
E este foi apenas o primeiro passo rumo à internacionalização da
contabilidade e das demonstrações financeiras. Mas esta alteração é
permanente, requer treinamento e uma nova visão cultural da empresa
sobre sua contabilidade. Atualmente, as empresas devem preparar seus
profissionais para que sejam capazes de acompanhar as revisões das
normas, orientações e interpretações já existentes (ou a emissão de
novas), a fim de verificarem os possíveis impactos em suas empresas.
Fonte: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/ifrs-um-pouco-de-historia/59939/
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