por Silvio Meira* | TERRA MAGAZINE
O presidente da telefônica no brasil, antônio carlos valente, acaba de
declarar que a empresa, no país, está a meses de se tornar maior que sua
matriz, na espanha. e olha que sua receita média [no móvel], aqui, é
menos que 10 euros por mês.
Com 250 milhões de chips ativos, o brasil não tem operadora móvel
brasileira. nem fixa. no modelo que escolhemos há tempos, fragmentamos a
telebrás, então campeã mundial de ineficiência operacional, e vendemos
as partes resultantes a operadoras mundiais. resultado? o mercado
brasileiro é da espanha, itália, méxico e portugal.
Poderia ter sido diferente? imagine que tivéssemos reorganizado a
telebrás, para o que também teria sido necessária a entrada de
competências e capital externo e privado, mas em minoria. imagine que
uma telebrás de classe mundial, ao tempo que dava conta do brasil, se
espalhasse pela américa latina, como os mexicanos fizeram, criando a
maior operadora do subcontinente e aí imagine uma crise do tamanho da
atual, na europa, e uma telebrás de um tamanho e cacife capaz de comprar
a portugal telecom [US$3.9B, menos da metade do valor conseguido em
leilão federal para privatização do aeroporto de guarulhos]. a tim é
quatro vezes isso e a telefônica é 15 vezes maior, mas nada que assuste
tanto. Sabe quanto é a dívida total da petrobrás? mais de US$80 bilhões…
perto de uma telefônica e meia.
Sim… e sabe no que deu aquela estratégia mexicana de se espalhar pela
américa latina? a telmex [leia claro, embratel, net… aqui] é três vezes
maior do que a telefônica, e tem um valor de mercado de mais de US$180
bilhões. Coisa de gente grande, que a gente poderia ter feito mas não
fez, e leite derramado não faz caixa ou gera trabalho, riqueza, impostos
e caixa, aqui, pra gente dominar nem que seja uma pequena parte do
mundo.
Há sinais de que este estado de cosias vai mudar? quem sabe? porque
você não tenta entender como é mesmo que a LAN [receita? US$5.6B]
comprou a TAM [receita? US$6.9B]? as duas têm o mesmo número de aviões e
uma dá lucro e outra, prejuízo. Não era pra ter sido o contrário?… ou
não? e por que?
talvez o maior problema do empreendedorismo brasileiro, em todos os campos e com raras exceções, seja empreender para nosso próprio umbigo.
achar que o que podemos fazer é, aqui, daqui e “praqui”, fazermos algo
que já está sendo feito com sucesso em algum lugar. e no grande, mas
complicadíssimo, mercado brasileiro . disso resulta um arcabouço mental e
de negócios que nos deixa cegos frente às oportunidades mundiais. e que
quase sempre mata todo pensamento de dominar o mundo, por menor que o mundo de seu negócio pareça, mundialmente, na partida.
Resultado? como mostra o passado recente, fazer só aqui, daqui e
“praqui” não é sustentável nem mesmo em nichos de mercado. mais cedo ou
mais tarde, alguém que está fazendo em algum lugar, e de lá para o mundo,
chega aqui e seu negócio vira suco –ou se torna parte do dele.
precisamos de uma visão de mundo. mas pra isso precisamos, também e
muito, de educação para tal.
No fim, quando tudo estiver no lugar, vamos entender que só iremos
para o mundo quando ele, também, estiver aqui. pois fechados,
protegidos, e sempre limitados pela infinidade de restrições aos
negócios internacionais que temos no brasil… será sempre mais fácil
imitar e, logo ali na esquina do tempo, ser comprado.
*Silvio Meira é professor titular de engª de software do
www.cin.ufpe.br, chief scientist do www.cesar.org.br, presidente do
conselho do www.portodigital.org além de fundador e batuqueiro do
maracatu “a cabra alada”
Fonte: http://terramagazine.terra.com.br/ via http://www.robertodiasduarte.com.br/index.php/dominar-o-mundo-por-que-nao/
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