Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
Fernanda Rosset, Ana Carolina Urquiza e
Albane le Marié têm mais em comum que a pâtisserie Le Jardin Secret, que
abriram juntas ano passado, na Vila Madalena. As sócias têm menos de 25
anos e engrossam a lista de empreendedores que se lançam no mercado
cada vez mais cedo.
De acordo com a pesquisa Global
Entrepreneurship Monitor (GEM), divulgada pelo Serviço de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas (Sebrae), a faixa etária com maior crescimento nas
taxas de empreendedorismo foi a de 25 a 34 anos, com 22% de alta,
inclusive no Brasil, entre 2010 e 2011.
No estudo, empreendedores de 18 a 24 anos
de idade constituem o segundo grupo de maior crescimento, com salto de
17,3%. O Brasil e a Rússia são os únicos países do G-20, analisados no
levantamento, em que empresários de até 24 anos são mais atuantes dos
que os que têm de 35 a 44 anos.
O empreendedorismo entre os mais jovens
cresce porque eles conseguem enxergar oportunidades em novas áreas,
segundo John Schulz, sócio fundador da BBS Business School. Os setores
preferidos pela maioria dos novatos são tecnologia e internet, comércio e
construção civil.
"O jovem é motivado pela curiosidade e
ousadia, além de ter energia e disposição a seu favor", diz. "Mas isso
não quer dizer que ele será mais bem-sucedido do que um profissional de
meia-idade." Para os especialistas, saber equilibrar qualidades dos dois
perfis etários é a senha para fazer uma empresa acontecer. "O
empreendedor mais velho tem a vantagem da experiência, o que
provavelmente o fará entrar em um mercado que domina."
Na Le Jardin Secret, as sócias uniram
habilidades pessoais para tirar a empresa do papel. "Eu sonhava em
trabalhar com doces, enquanto a Ana e a Albane sempre quiseram ter um
negócio próprio", diz Fernanda, 25 anos, diplomada em confeitaria pelo
French Culinary Institute, em Nova York. O trio investiu R$ 350 mil para
abrir a empresa e deve fechar o primeiro ano com faturamento de R$ 500
mil. Além do carro-chefe, flores cristalizadas, a loja oferece mais oito
tipos de doces, como macarons e brigadeiros. As entregas já chegam, em
média, a quatro mil volumes ao mês.
Segundo Mauro Johashi, da consultoria BDO
Brazil, muitas vezes o jovem empresário costuma ser mais agressivo e
focado no sucesso do negócio porque ainda é solteiro e não tem filhos, o
que significa menores responsabilidades financeiras. "Dessa forma, no
caso de algum erro de trajetória, as perdas costumam ser limitadas",
afirma.
Formado em administração, Fernando Nigri
Wolff, de 23 anos, fundou o Assina Me, um site que reúne venda de
assinaturas. O usuário pode receber, em casa, produtos como pães,
bebidas e flores. Com 40 parceiros, a empresa espera agrupar, neste ano,
mais de cem lojas on-line e chegar a 300 opções em 2013, com pelo menos
60 itens e serviços.
"Desde cedo, sentia necessidade de ter
minha empresa, com a motivação de criar algo do zero e ver um projeto
acontecer", afirma. Wolff trabalha com internet desde os 16 anos, quando
montava sites institucionais. Em 2010, criou o site de leilões Bidy,
adquirido pelo grupo Wow. No ano seguinte, fundou a agência de marketing
Beeleads que, aliada a um grupo português, deve faturar R$ 3 milhões em
um ano.
Segundo Ronald Jean Degen, professor de
Executive Development Program em estratégia da HSM Educação, os jovens
que saem das faculdades estão "encantados" com o conhecimento adquirido e
vivem o momento máximo de absorção de novas ideias. Para ele, os
iniciantes se destacam porque arriscam mais que seus pares quarentões.
"Quanto mais idade, menos coragem para assumir riscos", diz.
Noção de 360 graus do negócio é fundamental
Para o empreendedorismo ganhar mais
adeptos entre os jovens, é preciso uma maior facilidade na abertura de
empresas, menos burocracia e mais benefícios fiscais, segundo
especialistas. "A nossa legislação exige uma série de documentos para
uma companhia funcionar e isso normalmente é desconhecido pelos
iniciantes", diz Mauro Johashi, diretor da consultoria BDO Brazil.
Além de conhecer os trâmites legais
obrigatórios do início do negócio, os empresários deverão aprender a
liderar pessoas e investir em capacitação pessoal. Durante a jornada, é
indicado ainda buscar orientações de mentores e conhecer melhor a área
de atuação da nova empresa. Na área financeira, deve-se garantir uma
reserva de capital de giro. O recomendável é ter recursos para se manter
por até dois anos, sem renda.
"É preciso fazer um planejamento e ganhar
fluxo de caixa", diz Johashi. Para John Schulz, da BBS Business School,
empresários menos experientes podem optar por áreas que exigem pouco
capital de investimento, como comércio exterior e ensino de idiomas.
"Segmentos como restaurantes e pousadas
têm grande chance de fracasso não só porque exigem um aporte inicial
elevado, mas envolvem 'paixão'", diz. "O empreendedor idealiza o projeto
porque gosta de gastronomia ou quer viver num paraíso tropical, mas
falta conhecimento para gerenciar o negócio", afirma Schulz.
Antes de embarcar em qualquer projeto,
Schulz recomenda que o empresário atualize-se sobre o mercado em que vai
atuar, com cursos específicos ou uma formação generalista, como um MBA
executivo ou de gestão. "Ter uma noção de 360 graus do negócio é
fundamental para quem quer comandar uma empresa."
Júlio Paulillo, sócio da Agendor, é
adepto de um modelo permanente de aprendizado na empresa que fundou há
dois anos. "O processo envolve conversas constantes com os clientes e
análise de comportamento. Serve para colhermos 'feedback' e melhorarmos o
serviço de forma rápida", diz o empreendedor, que levantou a companhia
com recursos próprios.
Para ele, uma das maiores dificuldades é a
incerteza do mercado, só amenizada quando os clientes começam a pagar
pelo serviço oferecido. "Empreender é como estar em uma montanha russa",
compara. "Você começa o dia a mil quilômetros por hora, passa por uma
crise no meio da tarde e vai dormir na incerteza."
Paulillo, que prepara para 2013 uma
versão móvel do seu organizador on-line, está em busca de investidores
para complementar sua estratégia de crescimento. "Por ser jovem, é
difícil passar credibilidade à primeira vista. No Brasil, ainda há uma
grande resistência a empresários com pouca idade." Para suprir a falta
de quilometragem no mercado corporativo, ele costuma ler sobre
empreendedorismo, pesquisa histórias de pessoas que deram certo no mundo
dos negócios e participa de seminários para aprender com gestores mais
maduros.
Aos 27 anos, Bruno Ferraz Henriques,
sócio e co-fundador do Kanui, site de venda de equipamentos de esportes
de ação e aventura, lembra que o maior obstáculo, quando começou, foi
aprender a lidar com a necessidade de tomar decisões importantes o tempo
todo. "A primeira atitude é reconhecer a falta de experiência e sempre
compartilhar as decisões com a equipe", diz. (JS)
Planejamento dribla desconfiança contra idade do empresário
Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
Lançar produtos e serviços inovadores,
além de um bom planejamento antes de colocar a empresa na rua, são
alguns dos principais cuidados dos jovens empreendedores que já
conseguiram resultados financeiros. A KaEx, dona de um faturamento de R$
1,1 milhão em 2011, resolveu prestar consultoria para aumentar a
eficiência de fabricantes de bebidas e deve duplicar a receita em 2012.
Já a pâtisserie Le Jardin Secret investiu
em flores cristalizadas para casamentos e presentes corporativos. "Até
2014, estamos planejando abrir uma loja on-line e quiosques em shopping
centers para aumentar as vendas diretas", diz Fernanda Rosset, uma das
três sócias da empresa.
Diretor da KaEx Automação, aberta em
2011, Danilo Rodrigues de Sousa, de 25 anos, começou a planejar o
negócio quatro anos antes de fechar o primeiro contrato. "Eu trabalhava
em uma multinacional alemã do ramo de máquinas industriais e vi que o
mercado tinha potencial para crescer", diz. A KaEx atua com consultoria
para a eficiência de linhas de engarrafamento de fábricas de bebidas.
Analisa os equipamentos dos clientes e identifica falhas na manutenção e
no processo fabril.
"Como eu já era especialista em unidades
enchedoras de garrafas, comecei um planejamento minucioso da minha
futura empresa, com um mapeamento de clientes e as regiões em que
poderíamos atuar", lembra. A preparação incluiu ainda um levantamento
sobre os equipamentos que os clientes usavam nas plantas e o
desenvolvimento de uma metodologia para aumentar a eficiência das linhas
de engarrafamento.
Em 2008, Sousa procurou uma incubadora de
empresas e elaborou um plano de negócios, que envolvia estruturação
administrativa, desenvolvimento de produtos e serviços. Em abril de
2011, o projeto estava pronto. Ele largou o emprego na multinacional e a
empresa começou suas atividades.
"Todas as decisões que tomamos,
principalmente as relacionadas às vendas, são baseadas nas necessidades
dos clientes e na agilidade para a resolução de problemas", diz.
Hoje, a KaEx, com sede em São Paulo, tem
14 funcionários e atende empresas de bebidas em cinco Estados. A
Coca-Cola, Schincariol e a Indaiá estão na lista. A empresa faturou R$
1,1 milhão em 2011 e a previsão para 2012 é alcançar R$ 2,5 milhões de
faturamento.
"Este ano iniciaremos a fabricação
própria de produtos, antes terceirizada, e vamos criar um serviço de
atendimento de emergência para o verão, quando a demanda por bebidas
aumenta e as máquinas das fábricas não podem parar." Além de serviços na
área de automação, a KaEx desenvolveu um kit de vedações para máquinas
enchedoras de garrafas, que concorre com similares importados.
"Entregamos o material, que tem vida útil de um ano, em até dez dias
após o pedido do cliente. Um fabricante na Alemanha despacha em 120 dias
e o produto importado dura seis meses", garante. A empresa vai produzir
peças de borracha, vedações e itens em aço inox.
No mês passado, Sousa abriu uma filial em
João Pessoa (PB) e vai usar a unidade para ampliar a cartela de
clientes no Nordeste. Também está na agenda do empresário a importação
direta de equipamentos industriais, por meio de um escritório que será
montado em Miami, nos Estados Unidos, até o final de 2013. "Vamos
levantar uma planta industrial no interior de São Paulo para atender a
demanda do Sul e Sudeste."
A estimativa de crescimento da empresa é
de cerca de 15% para este ano, e os investimentos em 2013 serão de R$
1,8 milhão, em máquinas e na ampliação do laboratório de eletrônica, que
apoia os serviços de automação industrial. O valor do aporte é 30%
maior do que a verba aplicada em 2012.
Sousa teve de driblar algumas barreiras,
principalmente as relacionadas com sua pouca idade. "O maior problema
foi vender produtos e serviços para grandes corporações, sendo muito
jovem e ainda dono de uma empresa nova no mercado. É mais difícil para
as pessoas confiarem", diz. "Alguns clientes ficavam receosos se a nossa
estrutura seria suficiente para atendê-los."
Para abrir o negócio, o empresário
investiu R$ 100 mil do próprio bolso. A verba foi aplicada em viagens a
clientes para apresentar a empresa, material de papelaria, publicidade,
compra de um veículo de carga e de equipamentos para reparo de
eletrônicos. "Tivemos o retorno do investimento nos primeiros quatro
meses", diz Sousa.
Na pâtisserie Le Jardin Secret, as sócias
Fernanda Rosset, Ana Carolina Urquiza e Albane le Marié também
resolveram investir em um produto diferente para se destacarem da
concorrência: doces feitos com flores cristalizadas. "Antes, foi preciso
testá-los no mercado", diz Fernanda. As empresárias também elaboraram
um business plan. "Mesmo que ele mude depois, você já sabe por onde
começar e o que precisa fazer para que o negócio funcione."
A ideia de montar a empresa surgiu há dois anos, quando Ana e Fernanda foram visitar a amiga Albane no sul da França.
"Uma das maiores dificuldades foi achar
um local adequado", lembra. "A maioria dos imóveis estava irregular,
fora do nosso orçamento ou não podia ser adaptada segundo as regras da
Vigilância Sanitária."
A loja de dois funcionários, aberta no ano passado, atende principalmente organizadoras de casamentos e empresas.
Índice aponta otimismo moderado
Os pequenos e médios empresários
demonstram confiança no cenário econômico do país para o último
trimestre do ano. Mas não pretendem mudar seus planos em relação a
contratações e investimentos.
Esse quadro foi medido pelo Índice de
Confiança dos Pequenos e Médios Negócios (IC-PMN) do Instituto de Ensino
e Pesquisa (Insper) em parceria com o Grupo Santander. O estudo envolve
1,2 mil empresas das cinco regiões do país nos ramos do comércio,
indústria e serviços, que faturam até R$ 30 milhões por ano.
Mesmo que o cenário externo não seja o
desejado e o Brasil registre desaceleração do Produto Interno Bruto
(PIB), o otimismo com a economia, cotado em 74,1 pontos para o final de
2012, está bem acima dos 72,3 pontos registrados no quarto trimestre do
ano passado.
O professor do Insper, José Luiz Rossi,
integrante da equipe que desenvolve o índice, afirma que, diante do
cenário internacional, a sensação dos pequenos e médios empresários é de
que o pior já passou. "Ainda assim, não há a pretensão, por parte
deles, de fazer investimentos ou aumentar o número de empregados.
Continuará tudo igual. Percebe-se que as medidas do governo para redução
do IPI e ampliação da desoneração da folha de pagamento, na prática,
ainda não surtiram efeito para o segmento pesquisado", afirma. (AA)
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Fonte: Valor Econômico via http://www.4mail.com.br/Artigo/Display/017329000000000 |
Objetivo: Disseminar conteúdos relevantes sobre Contabilidade, Tributos, Sped, IFRS entre outros.
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Sucesso aos 25
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