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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Sucesso aos 25

Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo

Fernanda Rosset, Ana Carolina Urquiza e Albane le Marié têm mais em comum que a pâtisserie Le Jardin Secret, que abriram juntas ano passado, na Vila Madalena. As sócias têm menos de 25 anos e engrossam a lista de empreendedores que se lançam no mercado cada vez mais cedo.

De acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), divulgada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a faixa etária com maior crescimento nas taxas de empreendedorismo foi a de 25 a 34 anos, com 22% de alta, inclusive no Brasil, entre 2010 e 2011.

No estudo, empreendedores de 18 a 24 anos de idade constituem o segundo grupo de maior crescimento, com salto de 17,3%. O Brasil e a Rússia são os únicos países do G-20, analisados no levantamento, em que empresários de até 24 anos são mais atuantes dos que os que têm de 35 a 44 anos.

O empreendedorismo entre os mais jovens cresce porque eles conseguem enxergar oportunidades em novas áreas, segundo John Schulz, sócio fundador da BBS Business School. Os setores preferidos pela maioria dos novatos são tecnologia e internet, comércio e construção civil.

"O jovem é motivado pela curiosidade e ousadia, além de ter energia e disposição a seu favor", diz. "Mas isso não quer dizer que ele será mais bem-sucedido do que um profissional de meia-idade." Para os especialistas, saber equilibrar qualidades dos dois perfis etários é a senha para fazer uma empresa acontecer. "O empreendedor mais velho tem a vantagem da experiência, o que provavelmente o fará entrar em um mercado que domina."

Na Le Jardin Secret, as sócias uniram habilidades pessoais para tirar a empresa do papel. "Eu sonhava em trabalhar com doces, enquanto a Ana e a Albane sempre quiseram ter um negócio próprio", diz Fernanda, 25 anos, diplomada em confeitaria pelo French Culinary Institute, em Nova York. O trio investiu R$ 350 mil para abrir a empresa e deve fechar o primeiro ano com faturamento de R$ 500 mil. Além do carro-chefe, flores cristalizadas, a loja oferece mais oito tipos de doces, como macarons e brigadeiros. As entregas já chegam, em média, a quatro mil volumes ao mês.

Segundo Mauro Johashi, da consultoria BDO Brazil, muitas vezes o jovem empresário costuma ser mais agressivo e focado no sucesso do negócio porque ainda é solteiro e não tem filhos, o que significa menores responsabilidades financeiras. "Dessa forma, no caso de algum erro de trajetória, as perdas costumam ser limitadas", afirma.

Formado em administração, Fernando Nigri Wolff, de 23 anos, fundou o Assina Me, um site que reúne venda de assinaturas. O usuário pode receber, em casa, produtos como pães, bebidas e flores. Com 40 parceiros, a empresa espera agrupar, neste ano, mais de cem lojas on-line e chegar a 300 opções em 2013, com pelo menos 60 itens e serviços.

"Desde cedo, sentia necessidade de ter minha empresa, com a motivação de criar algo do zero e ver um projeto acontecer", afirma. Wolff trabalha com internet desde os 16 anos, quando montava sites institucionais. Em 2010, criou o site de leilões Bidy, adquirido pelo grupo Wow. No ano seguinte, fundou a agência de marketing Beeleads que, aliada a um grupo português, deve faturar R$ 3 milhões em um ano.
 
Segundo Ronald Jean Degen, professor de Executive Development Program em estratégia da HSM Educação, os jovens que saem das faculdades estão "encantados" com o conhecimento adquirido e vivem o momento máximo de absorção de novas ideias. Para ele, os iniciantes se destacam porque arriscam mais que seus pares quarentões. "Quanto mais idade, menos coragem para assumir riscos", diz.
 
Noção de 360 graus do negócio é fundamental
Para o empreendedorismo ganhar mais adeptos entre os jovens, é preciso uma maior facilidade na abertura de empresas, menos burocracia e mais benefícios fiscais, segundo especialistas. "A nossa legislação exige uma série de documentos para uma companhia funcionar e isso normalmente é desconhecido pelos iniciantes", diz Mauro Johashi, diretor da consultoria BDO Brazil.
 
Além de conhecer os trâmites legais obrigatórios do início do negócio, os empresários deverão aprender a liderar pessoas e investir em capacitação pessoal. Durante a jornada, é indicado ainda buscar orientações de mentores e conhecer melhor a área de atuação da nova empresa. Na área financeira, deve-se garantir uma reserva de capital de giro. O recomendável é ter recursos para se manter por até dois anos, sem renda.
 
"É preciso fazer um planejamento e ganhar fluxo de caixa", diz Johashi. Para John Schulz, da BBS Business School, empresários menos experientes podem optar por áreas que exigem pouco capital de investimento, como comércio exterior e ensino de idiomas.
 
"Segmentos como restaurantes e pousadas têm grande chance de fracasso não só porque exigem um aporte inicial elevado, mas envolvem 'paixão'", diz. "O empreendedor idealiza o projeto porque gosta de gastronomia ou quer viver num paraíso tropical, mas falta conhecimento para gerenciar o negócio", afirma Schulz.
 
Antes de embarcar em qualquer projeto, Schulz recomenda que o empresário atualize-se sobre o mercado em que vai atuar, com cursos específicos ou uma formação generalista, como um MBA executivo ou de gestão. "Ter uma noção de 360 graus do negócio é fundamental para quem quer comandar uma empresa."
Júlio Paulillo, sócio da Agendor, é adepto de um modelo permanente de aprendizado na empresa que fundou há dois anos. "O processo envolve conversas constantes com os clientes e análise de comportamento. Serve para colhermos 'feedback' e melhorarmos o serviço de forma rápida", diz o empreendedor, que levantou a companhia com recursos próprios.
 
Para ele, uma das maiores dificuldades é a incerteza do mercado, só amenizada quando os clientes começam a pagar pelo serviço oferecido. "Empreender é como estar em uma montanha russa", compara. "Você começa o dia a mil quilômetros por hora, passa por uma crise no meio da tarde e vai dormir na incerteza."
 
Paulillo, que prepara para 2013 uma versão móvel do seu organizador on-line, está em busca de investidores para complementar sua estratégia de crescimento. "Por ser jovem, é difícil passar credibilidade à primeira vista. No Brasil, ainda há uma grande resistência a empresários com pouca idade." Para suprir a falta de quilometragem no mercado corporativo, ele costuma ler sobre empreendedorismo, pesquisa histórias de pessoas que deram certo no mundo dos negócios e participa de seminários para aprender com gestores mais maduros.
 
Aos 27 anos, Bruno Ferraz Henriques, sócio e co-fundador do Kanui, site de venda de equipamentos de esportes de ação e aventura, lembra que o maior obstáculo, quando começou, foi aprender a lidar com a necessidade de tomar decisões importantes o tempo todo. "A primeira atitude é reconhecer a falta de experiência e sempre compartilhar as decisões com a equipe", diz. (JS)
 
Planejamento dribla desconfiança contra idade do empresário
Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
Lançar produtos e serviços inovadores, além de um bom planejamento antes de colocar a empresa na rua, são alguns dos principais cuidados dos jovens empreendedores que já conseguiram resultados financeiros. A KaEx, dona de um faturamento de R$ 1,1 milhão em 2011, resolveu prestar consultoria para aumentar a eficiência de fabricantes de bebidas e deve duplicar a receita em 2012.
 
Já a pâtisserie Le Jardin Secret investiu em flores cristalizadas para casamentos e presentes corporativos. "Até 2014, estamos planejando abrir uma loja on-line e quiosques em shopping centers para aumentar as vendas diretas", diz Fernanda Rosset, uma das três sócias da empresa.
 
Diretor da KaEx Automação, aberta em 2011, Danilo Rodrigues de Sousa, de 25 anos, começou a planejar o negócio quatro anos antes de fechar o primeiro contrato. "Eu trabalhava em uma multinacional alemã do ramo de máquinas industriais e vi que o mercado tinha potencial para crescer", diz. A KaEx atua com consultoria para a eficiência de linhas de engarrafamento de fábricas de bebidas. Analisa os equipamentos dos clientes e identifica falhas na manutenção e no processo fabril.
 
"Como eu já era especialista em unidades enchedoras de garrafas, comecei um planejamento minucioso da minha futura empresa, com um mapeamento de clientes e as regiões em que poderíamos atuar", lembra. A preparação incluiu ainda um levantamento sobre os equipamentos que os clientes usavam nas plantas e o desenvolvimento de uma metodologia para aumentar a eficiência das linhas de engarrafamento.
 
Em 2008, Sousa procurou uma incubadora de empresas e elaborou um plano de negócios, que envolvia estruturação administrativa, desenvolvimento de produtos e serviços. Em abril de 2011, o projeto estava pronto. Ele largou o emprego na multinacional e a empresa começou suas atividades.
 
"Todas as decisões que tomamos, principalmente as relacionadas às vendas, são baseadas nas necessidades dos clientes e na agilidade para a resolução de problemas", diz.
 
Hoje, a KaEx, com sede em São Paulo, tem 14 funcionários e atende empresas de bebidas em cinco Estados. A Coca-Cola, Schincariol e a Indaiá estão na lista. A empresa faturou R$ 1,1 milhão em 2011 e a previsão para 2012 é alcançar R$ 2,5 milhões de faturamento.
 
"Este ano iniciaremos a fabricação própria de produtos, antes terceirizada, e vamos criar um serviço de atendimento de emergência para o verão, quando a demanda por bebidas aumenta e as máquinas das fábricas não podem parar." Além de serviços na área de automação, a KaEx desenvolveu um kit de vedações para máquinas enchedoras de garrafas, que concorre com similares importados. "Entregamos o material, que tem vida útil de um ano, em até dez dias após o pedido do cliente. Um fabricante na Alemanha despacha em 120 dias e o produto importado dura seis meses", garante. A empresa vai produzir peças de borracha, vedações e itens em aço inox.
 
No mês passado, Sousa abriu uma filial em João Pessoa (PB) e vai usar a unidade para ampliar a cartela de clientes no Nordeste. Também está na agenda do empresário a importação direta de equipamentos industriais, por meio de um escritório que será montado em Miami, nos Estados Unidos, até o final de 2013. "Vamos levantar uma planta industrial no interior de São Paulo para atender a demanda do Sul e Sudeste."
 
A estimativa de crescimento da empresa é de cerca de 15% para este ano, e os investimentos em 2013 serão de R$ 1,8 milhão, em máquinas e na ampliação do laboratório de eletrônica, que apoia os serviços de automação industrial. O valor do aporte é 30% maior do que a verba aplicada em 2012.
 
Sousa teve de driblar algumas barreiras, principalmente as relacionadas com sua pouca idade. "O maior problema foi vender produtos e serviços para grandes corporações, sendo muito jovem e ainda dono de uma empresa nova no mercado. É mais difícil para as pessoas confiarem", diz. "Alguns clientes ficavam receosos se a nossa estrutura seria suficiente para atendê-los."
 
Para abrir o negócio, o empresário investiu R$ 100 mil do próprio bolso. A verba foi aplicada em viagens a clientes para apresentar a empresa, material de papelaria, publicidade, compra de um veículo de carga e de equipamentos para reparo de eletrônicos. "Tivemos o retorno do investimento nos primeiros quatro meses", diz Sousa.
 
Na pâtisserie Le Jardin Secret, as sócias Fernanda Rosset, Ana Carolina Urquiza e Albane le Marié também resolveram investir em um produto diferente para se destacarem da concorrência: doces feitos com flores cristalizadas. "Antes, foi preciso testá-los no mercado", diz Fernanda. As empresárias também elaboraram um business plan. "Mesmo que ele mude depois, você já sabe por onde começar e o que precisa fazer para que o negócio funcione."
 
A ideia de montar a empresa surgiu há dois anos, quando Ana e Fernanda foram visitar a amiga Albane no sul da França.
 
"Uma das maiores dificuldades foi achar um local adequado", lembra. "A maioria dos imóveis estava irregular, fora do nosso orçamento ou não podia ser adaptada segundo as regras da Vigilância Sanitária."
 
A loja de dois funcionários, aberta no ano passado, atende principalmente organizadoras de casamentos e empresas.
 
Índice aponta otimismo moderado
Os pequenos e médios empresários demonstram confiança no cenário econômico do país para o último trimestre do ano. Mas não pretendem mudar seus planos em relação a contratações e investimentos.
 
Esse quadro foi medido pelo Índice de Confiança dos Pequenos e Médios Negócios (IC-PMN) do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) em parceria com o Grupo Santander. O estudo envolve 1,2 mil empresas das cinco regiões do país nos ramos do comércio, indústria e serviços, que faturam até R$ 30 milhões por ano.
 
Mesmo que o cenário externo não seja o desejado e o Brasil registre desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB), o otimismo com a economia, cotado em 74,1 pontos para o final de 2012, está bem acima dos 72,3 pontos registrados no quarto trimestre do ano passado.
 
O professor do Insper, José Luiz Rossi, integrante da equipe que desenvolve o índice, afirma que, diante do cenário internacional, a sensação dos pequenos e médios empresários é de que o pior já passou. "Ainda assim, não há a pretensão, por parte deles, de fazer investimentos ou aumentar o número de empregados. Continuará tudo igual. Percebe-se que as medidas do governo para redução do IPI e ampliação da desoneração da folha de pagamento, na prática, ainda não surtiram efeito para o segmento pesquisado", afirma. (AA)



Fonte: Valor Econômico via http://www.4mail.com.br/Artigo/Display/017329000000000

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