Chega
um momento em que toda pessoa deseja passar o bastão para buscar o
descanso merecido. Os empresários também precisam desfrutar dessa fase
da vida. Mas como fazer isso sem perder o investimento de uma vida
inteira?
Gilvânia Banker
Após
trabalhar durante anos, alguns empresários decidem que chegou a hora de
encerrar a carreira. Saber exatamente o que avaliar pode ser decisivo
na hora de fechar o melhor negócio. “Comercializar a sociedade que, na
maioria das vezes, ajudou a fundar, é uma forma segura de levantar
fundos para uma aposentadoria mais tranquila”, destaca Batista
Gigliotti, master franqueado da Sunbelt Business Brokers no Brasil, que
atua na intermediação de vendas de empresas. Segundo ele, a medida
também permite ver a continuidade, mesmo que de longe, do modelo de
empreendimento a que teve importante ou total participação sua.
A
avaliação detalhada não é só para quem compra, pois quem vende também
precisa saber quem irá assumir seu investimento, principalmente se ele
for parcelar o valor. Gigliotti lembra que existem diversas metodologias
disponíveis no mercado, e que cada uma levará em consideração um
determinado fator. Contar com profissionais que conheçam a fundo o
mercado em que atuam é fundamental para o sucesso da operação.
Segundo
o especialista, é preciso estar preparado para as perguntas que poderão
surgir do comprador. “Vender uma empresa é diferente do que
comercializar um apartamento, mesmo que você tenha uma cláusula de
retomada do seu negócio, tem que ver em que estado ele irá retornar”,
alerta. Gigliotti explica que os riscos são altos, mas é a forma de
capitalizar um negócio que a pessoa investiu a vida inteira.
Para
muitos, o óbvio seria passar para um filho, familiar ou preparar um
sucessor. Mas, na maioria dos casos, conforme o especialista, isso não
acontece nas pequenas e médias empresas. Porém, como qualquer outro
profissional, o empresário também precisa pensar em sua aposentadoria.
Gigliotti comenta que conhece inúmeros casos de pessoas que queriam
vender o seu negócio para simplesmente curtir os netos, ou para viajar
com a família. No entanto, o empreendimento precisa continuar. Segundo
ele, do total de empresas no País, cerca de 10% a 20% são vendidas por
essas razões. Um montante considerado grande em sua visão.
Orientação ajuda na hora de fazer avaliação abrangente
Tomar
a decisão de vender ou de comprar um empreendimento merece muito
cuidado. Por isso, o Sebrae/RS orienta que é necessário uma adaptação
quanto à forma de atuação da companhia.
De
acordo com a entidade, uma empresa só atinge a maturidade depois de
passados os três primeiros anos de existência. Seria esse o primeiro
aspecto a levantar. Mas, de acordo com o Sebrae/RS, é fundamental, antes
de decidir, fazer uma autoanálise para descobrir se há aptidão e
conhecimento para o desafio pretendido. Também é preciso verificar se
possui perfil para ser patrão. Qualquer resposta negativa para uma
dessas questões expõe uma debilidade que poderá implicar o insucesso do
empreendimento.
Questionamentos
como esses são tão comuns que o Sebrae/RS costuma estimular os
empreendedores para que busquem orientação. Além disso, a entidade
sugere que o comprador solicite a apresentação de documentos como
contratos de locação de imóvel e de constituição da sociedade e os
cartões do CNPJ, de inscrição estadual e do cadastro de contribuinte
mobiliário, além das cinco últimas declarações de Imposto de Renda da
Pessoa Jurídica, Dipam, Rais dos últimos cinco anos, livros contábeis
obrigatórios e devidamente escriturados e registrados. São essas as
exigências mínimas para se comprovar a regularidade de uma empresa, além
de buscar uma renegociação do imóvel, se for alugado.
Escritórios preocupam-se em planejar a sucessão
Os
escritórios de contabilidade vivem uma realidade diferente. De acordo
com pesquisa realizada pela Trevisan Escola de Negócios e Unisescon com
um universo de 204 associados ao Sindicato das Empresas de Serviços
Contábeis e das Empresas de Assessoramento de São Paulo (Sescon/SP), 80%
das empresas de contabilidade paulistas preocupam-se em planejar a
sucessão e em preparar seus sucessores para este momento. “A pesquisa
demonstra a preocupação do setor com a profissionalização, que passa
necessariamente por gestores bem preparados”, avalia o diretor da
Trevisan, Fernando Trevisan.
A
maioria dos sucessores se interessa ou está no caminho de aprimorar os
conhecimentos para assumir o comando. Segundo o levantamento, 42% já são
bacharéis ou estão cursando graduação em Ciências Contábeis, enquanto
39% pretendem realizar o curso.
A
pesquisa aponta que 64% dos possíveis sucessores estão acima dos 21
anos. A maior parte dos entrevistados ainda tem a primeira geração no
comando.
Negociar com clareza é fundamental
Os
passos de venda geralmente incluem uma due diligence, um processo de
análise realizada por uma auditoria, que faz o diagnóstico do passivo
tributário, ambiental e trabalhista da sociedade a ser adquirida, e
também dos ativos. O especialista em Direito empresarial, o advogado
Daniel Radici Jung, do escritório Gianelli Martins Advogados, explica
que existe um cuidado muito grande e um tempo adequado para realizar a
inspeção. “Muitas vezes, as dívidas não são identificadas, pois uma
certidão de débitos pode estar negativa em uma semana e positiva em
outra.”
Conforme
Jung, que já intermediou diversas negociações, mesmo que a companhia
esteja regular junto ao fisco, é necessário todo um processo de
auditoria na contabilidade nas relações contratuais e nas relações
trabalhistas, que acaba refletindo no valor da negociação. Ele explica
que, em relação aos tramites legais, independentemente de ser uma Ltda.
ou uma S.A., as alterações dos contratos e do estatuto são feitos na
Junta Comercial.
Jung
ainda acredita que é preferível que o dono que se aposenta transfira o
negócio para os filhos ou prepare ao longo do tempo um sucessor. Mas, se
isso não for possível, ele necessita de uma equipe competente para
intermediar a negociação. Normalmente, as Ltda. ou S.A. são passadas
para o sócio que tem a preferência. No entanto, ocorre que a sociedade,
muitas vezes, possui o chamado “sócio-laranja”, que tem quota
minoritária e não tem interesse e muito menos formação para gerir a
companhia.
Nesses
casos, as opções também são as fusões, cisões e incorporações. A fusão é
quando duas ou mais empresas se juntam para formar uma nova sociedade, e
a incorporação é quando uma absorve a outra e todo o seu ativo é
transferido, permanecendo seu CNPJ e sua razão social. Já a cisão, uma
operação mais rara, é quando a corporação transfere parcelas do seu
patrimônio para uma ou mais sociedades, extinguindo-a.
Seja
qual for o modelo adotado, Jung explica que os documentos contábeis são
fundamentais e expressam muito bem a realidade da entidade, mas é
preciso uma análise mais rigorosa, pois podem existir dívidas ocultas.
“O papel da contabilidade é imprescindível, pois são os primeiros
documentos a serem analisados. A entidade vai ser vendida pelo valor de
mercado e às vezes a contabilidade está defasada e não há preocupação de
preparar o negócio para isso”, comenta.
Cresce o número de fusões e aquisições no primeiro semestre de 2012
O
movimento de fusões e aquisições foi marcante para o Rio Grande do Sul
nos primeiros seis meses do ano. Neste período, 17 companhias foram
vendidas, um aumento de 30% em relação ao mesmo período do ano passado,
quando ocorreram 13 transações. “A aquisição de empresas gaúchas
continua sendo uma premissa importante para quem entra no Estado em
função de suas perspectivas econômicas e aspectos regionais deste
mercado” afirma Luis Motta, sócio-líder da área de Fusões e Aquisições
da KPMG no Brasil e responsável pela pesquisa.
Os
gaúchos também resolveram comprar: no primeiro semestre de 2012, foram
13 operações de empreendimentos estabelecidos no Rio Grande do Sul,
número 44,5% maior do que no mesmo período de 2011, quando foram
registradas nove aquisições. “A pesquisa deste primeiro semestre mostrou
que, se de um lado as empresas estão crescendo e se tornando atrativas
para investidores, de outro, muitas companhias também se fortalecem e
expandem suas atuações”, conclui Motta.
Segundo
a pesquisa, no Brasil, no primeiro semestre de 2012, 167 entidades
nacionais foram compradas por multinacionais. Comparado ao mesmo período
de 2011, o aumento foi de 77% de desnacionalização. O estudo, mesmo que
restrito às grandes organizações, revela que as fusões e aquisições se
tornam uma tendência no mercado, independentemente do nicho e porte da
empresa.
Fonte: Jornal do Comércio - RS via Fenacon
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